terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sabedoria - um conto sufi


Um Mestre dava as últimas instruções à um grupo de discípulos que estava prestes a embarcar em busca de sabedoria (conhecimento, iluminação, etc).

Entre outras coisas, o Mestre lhes disse:

- Jamais corram ou se apressem. Isso não os levará a parte alguma.
- Se alguém lhes mostrar um atalho, não o sigam. Sempre terá armadilhas.
- Se alguém lhes oferecer o que andam buscando, parem e aceitem o que é oferecido.

Neste momento, alguém chega e diz que o barco está prestes a partir. A metade dos discípulos sai correndo. A outra metade segue um sujeito que diz conhecer um atalho para chegar ao barco.

Apenas um discípulo permanece em frente ao Mestre, que lhe diz:

- Neste caso vou te oferecer o que anda buscando - a sabedoria. Não necessitará ir a parte alguma.


quarta-feira, 21 de julho de 2010

Conversas com o Mestre


Mestre, este lugar não vale nada, é um deserto!

Não. Apenas não foi semeado ainda.


Mestre, só podemos oferecer o que trazemos dentro de nós. Tenho razão?

Ninguém pode oferecer apenas o que leva dentro de si. O pedido do outro o insemina. O dom se cria entre dois.


Mestre, esta pessoa quer me causar danos.

Não tema aos que querem te causar danos. Somente aos que podem te causar.


Mestre, quando serei forte?

Quando aprender a não ferir.


Mestre, o que é triunfar?

É aprender a fracassar.


Mestre, aprendi a quebrar jarros!

Há infinitas formas de se quebrar um jarro, mas apenas uma de se criar um.


Mestre, me sinto só.

É porque não sabe estar consigo mesmo.


Mestre, quando chegarei à perfeição?

Quando dar for tão importante para você quanto receber.


Mestre, quando poderei ser Mestre?

Quando aprender a reconhecer e exaltar os valores do outro.


Mestre, tenho medo de não conseguir chegar.

Não se preocupe em "chegar", mas em "avançar". Seguir avançando é ir chegando.


Mestre, que devo fazer para que o fogo não me queime?

Se converta em fogo.


Mestre, este homem lutou com todas as suas forças para obter o êxito. Por que quando conseguiu, morreu?

Porque lutou com todas as suas forças para obter o que não desejava.


Mestre, por que, apesar de dar, ninguém me agradece?

Uma coisa é dar. Outra é obrigar a receber.


Mestre, fiquei analisando seu traje. Cada elemento tem um profundo significado. Mas há um detalhe que não consegui interpretar: o que significa seu cinto?

Significa que minha calça não cai.


Mestre, por que não consigo parar de pensar?

Você não pensa: os pensamentos te pensam.


Mestre, não sei o que eu faria sem mim.

Seria Mestre.


Mestre, busco mas não encontro.

Pare de buscar e crie as condições adequadas para receber.


Mestre, cada vez que tento meditar, imagino que um diabo me perturba!

Ponha esse diabo para meditar também.


Mestre, qual é o som de uma mente vazia?

O som da tua voz, que não para de fazer perguntas.


Mestre, por que as montanhas têm rochas?

As montanhas não têm rochas. As rochas são as montanhas.


Mestre, o que pode me ensinar?

Só posso lhe ensinar a aprender através de si mesmo.


Mestre, tenho tudo o que quero, mas não sou feliz. Por que?

A única possibilidade que se tem de ser feliz é compartilhar, fazendo felizes aos outros também.


Mestre, qual a diferença entre ingenuidade e estupidez?

A ingenuidade é ignorância com amor. A estupidez é ignorância com agressão.


- Alejandro Jodorowsky


fonte: Plano Creativo

sábado, 15 de maio de 2010

ESSENCIAIS


O dia mais belo: hoje.
A coisa mais fácil: equivocar-se.
O maior obstáculo: o medo.
O maior erro: abandonar-se.
A raiz de todos os males: o egoísmo.
A distração mais bela: o trabalho.
A pior derrota: o desalento.
Os melhores mestres: as crianças.
A necessidade mais básica: comunicar-se.
A maior felicidade: ser útil aos demais.
O maior mistério: a morte.
A melhor sensação: a paz interior.
A arma mais eficaz: o sorriso.
O melhor remédio: o otimismo.
O mais bonito: o amor.

_ Madre Teresa de Calcutá

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sapatos


Transformei meu coração em sapatos, e lhes sussurrei a ordem: que me levem até você!

A mensagem e a onda


Durante décadas corria à praia e lançava ao mar mensagens de amor dentro de garrafas, na esperança de que encontrassem sua alma gêmea.

Certa manhã, uma onda apaixonada veio e o levou com ela.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Ego


Nós construímos uma pele invisível à qual damos o nome de ego?

Não, a pele não é o ego. Nos acostumamos a pensar que seja assim, mas isso não é correto. Imaginemos um leão: ele chega até onde seu salto alcança, esse é o seu território. Quando um animal se vê invadido em seu território, ele salta. Existem plantas cuja percepção alcança quilômetros de distância, aves que vencem distâncias formidáveis com o seu vôo, ou organismos que são sensíveis ao que está muito longe. E o homem? O homem não tem limites.

O que seria o ego, então?

Fala-se muito sobre o ego sem compreender o que ele é. Na verdade, temos nosso ser essencial e uma outra parte adquirida que permite uma identificação, ou identidade. Esta última é o ego, uma identidade adquirida, que está a serviço da essência. O ego pode degenerar e se transformar em personalidades desviadas, esquizofrênicas, paranóicas. Porque é no ego que acontecem os traumas e os golpes da vida.

O que significa "sacrificar o ego"?

Este ego, isto que chamamos nosso "Eu", este pequeno monstro, caricatura que foi marcada por toda a nossa história, é belo. Nosso ser é belo, mas ao sacrificar a caricatura que somos, chegamos ao nosso ser essencial. Isso não é fácil, pois estamos acostumados a sermos sempre os mesmos. Durante vinte, quarenta ou sessenta anos, somos a caricatura de nós mesmos e jamais a abandonamos. O sacrifício consiste em converter-se em um ser novo. É muito difícil sacrificar a concepção que temos de nós mesmos, nossos pontos de vista, nossos hábitos... O ego é um ponto de vista. Sacrificar o ego é sacrificar o ponto de vista que temos sobre nós mesmos e sobre os outros.

O que podemos fazer no mundo sem o ego?

O ego é surdo. Surdo e cego. O ego é necessário enquanto a casca que envolve a essência. O ego tem que se render perante a essência. Isso de "matar o ego" é uma loucura dos gurus que, certamente, são grandes ególatras. O ego tem que ser domado.



No Tarot, na carta do Louco, o animal que o segue apóia suas patas na base de sua coluna vertebral, no ponto em que a tradição hindu situa o centro nervoso que concentra as influências da terra (o chakra mûlâdhâra). Se O Louco fosse um cego, seria guiado por seu cão, mas aqui é ele quem vai na frente de seu animal, o Ser visionário, essencial, guiando o ego. O ego infantil foi domado, chegou num ponto de maturidade suficiente para compreender que ele deve servir ao ser essencial, e não lhe impor seus caprichos. Esta é a razão pela qual o animal, que tornou-se receptivo, é representado na cor azul celeste. Ele colabora com o Louco e o impulsiona. Parte de seu corpo está fora da carta: ele representa assim o passado. Um passado que não impede o avanço da energia essencial em direção ao futuro.


-Alejandro Jodorowsky

sábado, 8 de maio de 2010

BREVE HISTÓRIA DO IMAGINÁRIO

Do ponto de vista histórico, o ser humano começou sua existência fechado no que ele era, dentro de si mesmo. Depois, ele se deu conta de que podia permitir a entrada de elementos que não estavam nele mesmo, e sim fora do seu corpo. Fomos colocados na natureza e o que acontece é que a natureza passa a ser nós mesmos! No começo, no entanto, o mundo nos parecia alheio.


Me dou conta de que existem árvores, vegetação, flores, ervas... Por meio da feitiçaria, um dia eu incorporo a árvore em mim. Crio um totem vegetal. Estou unido à árvore, ao totem. Quando se planta uma árvore, essa árvore é eu; quando o tronco dela é cortado, eu morro. Quando eu morro, suas sementes são colocadas em minha boca, e delas nasce outra árvore maravilhosa. Do meu cadáver surge uma árvore e logo eu me transformo em semente. Tendo incorporado as árvores eu começo a lavrar a terra, porque me identifico com as plantas. O que está na base da minha imaginação é o mundo vegetal, e isso se transmite até os dias de hoje, pois os fitoterapeutas usam as plantas para curar. É preciso entrar no espírito das plantas, mas de maneira inversa, abrindo uma porta para que o espírito das plantas penetre em mim.

O nascimento de Buda acontece na flor de lótus que brota no pântano. Toda religião egípcia ou budista está fundada na incorporação de uma planta, pois esta flor se abre à luz do sol, expande seu perfume e se torna deus. Eu sou uma planta que nasce do lodo, que cresce em meu inconsciente; eu cresço a partir da consciência, do conhecimento, e de mim sai o Ser de Luz. A origem disso tudo é remota.



A medida que a humanidade progride em seu avanço, o homem deixa que o animal penetre nele. Ele absorve o animal: os insetos, as rãs, os tigres, os leões, os leopardos, as aranhas... ou seja, o totem animal. Todos os deuses nasceram do totem animal: Apolo, por exemplo, é uma rã. Em muitas culturas, é comum esculpir máscaras de animais. Inclusive o zodíaco é simbolizado por figuras de animais, e ainda hoje, perdura a incorporação do totem animal em nossa vida cotidiana: usamos expressões como "ser uma águia" ou "lutar como um leão". Nós temos o animal incorporado em nós.



E é assim que, em princípio, o ser humano produz sua criatividade: de cada coisa que incorpora, faz nascer um deus. Depois de ter incorporado o animal, o homem torna-se caçador: pode criar vacas, cordeiros... Se ele incorpora um tigre, pode caçar um tigre; se introduz um elefante, pode domar um elefante. É daí que vem o deus Ganesha, na Índia, com sua cabeça de elefante. Para a cultura indiana, Maya é uma aranha que tece o universo; e esse universo é um sonho, tecido em forma de teia. Como podemos ver no tarot, o arcano oito é A Justiça, uma descendente da aranha. Todo número oito descende da aranha: as oito patas, o símbolo do infinito e outras referências.


Porém, precisamos ir mais longe. O homem contempla os movimentos da lua, do sol, e olhando as estrelas, incorpora os ritmos do cosmos. É daí que nasce a lei, a realeza; toda a organização da sociedade nasce da incorporação do ritmo cósmico. Por exemplo, havia um rei que, nas noites de lua cheia, dava presentes ao seu povo e era destronado quando ela se punha. Eles acompanhavam o movimento da lua. Nós pensamos por ciclos. Ainda persiste a participação dos astros na organização da vida social. Somos regidos por um presidente, que simboliza o Sol, e pela mulher do presidente, que simboliza a Lua. O Papa é um símbolo solar; A Papisa é um símbolo lunar.

Já no Século das Luzes, o homem decidiu ser intelectual, puramente intelectual. E assim, a mecânica começa a produzir os aparatos: os motores a gás, os mecanismos e as máquinas que funcionam com energia manual, como os relógios. E o homem incorpora as máquinas. Imita o comportamento das máquinas! Ele assumiu o pensamento racional. Até hoje nós carregamos as marcas do Século das Luzes. O que nos parece impossível não é aceitável. O que não é lógico não tem validade para nós! As máquinas são total e absolutamente lógicas. Elas têm uma finalidade muito clara, e portanto, o homem também tem que ter uma finalidade definida.



Estamos marcados pelo racionalismo. Ser racional é bom, mas ser somente racional é uma doença. Quando a sexualidade tomou o caminho da racionalidade através da religião, produziu-se uma catástrofe. Criou-se uma moral racional que se estendeu para toda a sociedade, o que a tornou profundamente destrutiva. Ao incorporar a racionalidade ao sexo, criou-se um problema que mais tarde nos fez romper com a racionalidade.

Como reação a esta doença, surgiram Freud e os surrealistas. O surrealismo foi muito importante porque fez com que começássemos a nos identificar com os sonhos, nós recuperamos o reino dos sonhos como parte de nós mesmos. Antes disso o sonho pertencia aos deuses, não era para os humanos. Ao incorporar o sonho, eu me tornei o que sonho.



Deu-se mais um passo. Agora, no século XXI, nós temos os computadores. O que supõe uma mudança radical em nossa mentalidade, porque assumimos todos os sistemas de informática. Agora uma casa pode ser vista de qualquer lugar. No seu imaginário, você sabe que pode entrar por uma janela, visitar um apartamento e sair. Podemos olhar uma pessoa com a mente, entrar em todas as suas veias e todo seu corpo para chegar a um lugar específico. Estamos começando a ter um comportamento de computador. É esta mudança que estamos sofrendo neste momento. Processamos dados de uma maneira diferente. O que virá depois disso?



Fiz uma breve recapitulação do histórico do imaginário. Se olho para os meus sapatos, que são de uma época racional, eu os vejo como vegetal, eu vejo os sapatos como raízes. Como couro, o material de que são feitos, posso também ver o animal. E também posso vislumbrar onde eles me levam, os sapatos como objetos, e isso é racional. Surrealista: vejo que toda a minha infância está ali dentro! E nessa época atual, os sapatos podem ser vermelhos, podem ser verdes, amarelos; posso mudar as suas cores, posso mudar as suas formas; há dez milhões de sapatos para eu calçar. Sou livre para sair da minha prisão mental!



-Alejandro Jodorowsky
(Psicomagia)

A IMAGINAÇÃO

A imaginação é um jogo de construções que nós temos. Nós vamos adquirindo os materiais por diversos caminhos: palavras, emoções, desejos, necessidades, sensações. A imaginação é uma linguagem mais rica que nossa limitada linguagem oral. A imaginação supera os limites do racional.

Existe uma imaginação visual, táctil, olfativa, auditiva, emocional, sexual ou intelectual. Uma imaginação emocional desenvolve seus sentimentos até o sublime ou o crime. Uma imaginação sexual, como a do Marquês de Sade; uma imaginação material, como a que Marx tinha, que o fazia ver o mundo através da economia.

Eu chamo a imaginação de criatividade, a base da vida. Nós padecemos pela falta de imaginação, pela falta de criatividade. Criatividade significa uma transformação radical de nós mesmos. A maior parte das doenças tem origem na falta de criatividade. Os problemas sociais que temos no mundo também se devem a essa carência.

-Alejandro Jodorowsky (Psicomagia)

O TAROT


O Tarot é um organismo de imagens e formas muito difícil de se resumir. Uma das mais antigas linguagens visuais da humanidade. O Tarot obedece a um princípio de projeção visual, e funciona como um espelho, proporcionando o desenvolvimento conforme você vai aumentando a visão que tem de si mesmo. Fala sobre o inconsciente do consulente, e se pode ajudar, ele ajuda. Ele serve para curar.

-Alejandro Jodorowsky (Psicomagia)

HÁ ALGUMA COISA PARA PERDOAR NA VIDA?


Se colocarmos a pergunta desta forma, significa que vemos a vida como um objeto, e como a nós como sujeitos que estamos de fora, e que julgamos. Para perdoar a vida, primeiramente teríamos que perdoar a nós mesmos. E para isso, teríamos que ser culpados de alguma coisa, e não somos. Não existe culpa. Nem mesmo um criminoso é culpado sozinho: todo crime individual é fruto de uma família, de uma sociedade, e da história.

Temos que nos livrar dos ressentimentos. É um trabalho insano isso de perdoar nossas raivas e rancores. Nós mesmos estamos cheios de rancores e frustrações por amor não recebido. A doença é falta de amor.

E qual o remédio para a falta de amor?

A Criatividade.

- Alejandro Jodorowsky (Psicomagia)

ALQUIMISTAS


Alquimistas buscam a pedra filosofal, o solvente universal, e o elixir da vida eterna.

Num nível simbólico, pela busca da pedra filosofal entende-se desenvolver os valores internos, alcançar outras dimensões através de seu nível de consciência.

Pela busca do elixir da vida eterna, entende-se aceitar sua vida na eternidade do aqui e do agora, do momento presente.

Pela busca do solvente universal entende-se desenvolver o amor em seu coração. O amor que dissolve todas as resistências.

- Alejandro Jodorowsky (Psicomagia)

POR QUE O RISO CURA?



Porque quando rimos é como se nós nos desligássemos da nossa dor ou do nosso tormento. O riso nos distancia dos nossos próprios conflitos e desata os nós. Naquele momento, ele ajuda, abre os diques e traz felicidade por alguns instantes.

Os chistes também funcionam assim. Não existe apenas um tipo de chiste, mas uma variedade deles. Há chistes que são agressivos, racistas ou sexuais, e que são nocivos. No entanto, existem certos chistes que poderíamos chamar de iniciáticos e que têm um conteúdo metafísico, filosófico, humano: são chistes profundos.

Essa maneira de fazer humor sempre foi utilizada nas escolas místicas: os sufis contam histórias sobre o sábio idiota, Mula Nasrudin, por exemplo. Nas escolas iniciáticas, o chiste é um elemento tão importante quanto os textos sagrados.

- Alejandro Jodorowsky
(Psicomagia)

O QUE ESPERAR DA VIDA?


Responde Alejandro Jodorowsky:

"Muitas coisas. Sobretudo viver amplamente. Para isso, temos que ter um trabalho que nos dê prazer, e fazer o que nos dê prazer. Temos que ser o que somos, e não o que os outros querem que sejamos. Amar o que amamos, e não pelo fato de sermos obrigados. Amar sem os elos neuróticos que não podemos desatar. Viver com prosperidade, mas uma prosperidade que seja para todos, e não baseada na exploração do outro. E temos que alcançar a imortalidade, vivendo como se fôssemos imortais, pensando que temos mil anos pela frente, para fazermos o que quisermos, sem nos esquecermos de que podemos morrer nos próximos dez segundos."

-Fonte: Psicomagia

quinta-feira, 6 de maio de 2010

ADÃO

Quis dizer "fogo", e lhe saiu uma labareda pela boca. Com terror disse "abelha", e vomitou um enxame. Já mais cauteloso murmurou "trigo", e a língua se cobriu de sementes. Disse "diamantes, pérolas, ouro", mas essas palavras se mesclaram com tarântulas, tigres, excrementos.

Depois de horas de silêncio, realizando seus sonhos, exclamou "Eva!". Foi atingido por uma dor atroz na mandíbula. A boca se abrindo cada vez mais. Enquanto uma cabeça provida de farta cabeleira começava a surgir partindo-lhe os dentes, foi perdendo a respiração, e logo a consciência.

O corpo da linda mulher, formada pelos ossos e pela carne daquele primeiro homem, surgiu da pele vazia.

-Alejandro Jodorowsky

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O MELHOR DE MIM

Quando alguém faz uma oferenda num templo, sempre oferece o melhor que tem. Não se oferece o que se tem sobrando. Oferecem o melhor animal, a mais bela flor, etc.
...



Há uma história maravilhosa: um mestre cultivava um belíssimo campo de lírios, e um grande guerreiro, ao tomar conhecimento deste jardim, quis vê-lo e mandou um mensageiro anunciar ao mestre sua chegada. No dia seguinte, quando o guerreiro chegou, não havia um só lírio no jardim. O mestre havia cortado todos. Então o guerreiro, furioso, entrou na casa do mestre para matá-lo. Mas este o esperava para dar-lhe algo: "Aqui está o mais belo lírio", disse o mestre ao guerreiro. Ele havia sacrificado todo seu jardim, para escolher o melhor, que ofertava ao seu visitante.

...


Me sacrifico se amo alguém. Sacrifico meus desejos, minhas necessidades, minhas idéias, e lhe ofereço o melhor de mim, que é meu estado de consciência: nos comunicamos de consciência a consciência. Este é o sacrifício.


- Alejandro Jodorowsky

CONTEÚDO X ESSÊNCIA


Somos o conhecer, não o que é conhecido. Nada que possamos saber a nosso respeito somos nós. Conhecer sobre o que nós somos não é conhecer o que nós somos. O que achamos que somos é conteúdo, não essência."

- Eckhart Tolle

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Parabéns!

FELIZ CUMPLEAÑOS, ALEJANDRO JODOROWSKY!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

CONTOS FILOSÓFICOS: A Mulher Infeliz


Uma mulher que sofria de depressão crônica acabou encontrando um terapeuta e disse-lhe:

- Doutor, tenho um marido que me ama e que me enche de presentes, tenho filhos com boa saúde, um trabalho que me interessa e no qual tive sucesso. Por outro lado, não sofro de nenhuma doença grave. Em resumo, sou infeliz.

Um ano mais tarde, o terapeuta, que se mostrara impotente para aliviar sua paciente, reencontrou-a por acaso numa noite. Ela lhe disse que o marido a abandonara para partir com outra mulher, que os filhos estavam se drogando, que tinha perdido o emprego e acreditava estar com uma doença terminal.

- E então? - perguntou o terapeuta. - Você não é mais infeliz?

- Sim - ela respondeu - , mas agora sei o motivo.

CONTOS FILOSÓFICOS: O Maior Mestre


Um monge zen de boa reputação contou que o maior mestre que ele conheceu chamava-se Oshibu.

- O que encontrou nele? - perguntou-lhe um outro monge.

- É muito simples: cheguei a ele sem nada e parti sem nada.

- Isso é tudo? - exclamou o outro monge. - E você disse que ele é o maior mestre que você já conheceu?

- Sim, eu disse.

- E por quê?

-Porque sem ele como eu teria sabido que cheguei sem nada e que parti sem nada?

CONTOS FILOSÓFICOS: A Suprema Sabedoria


Um noviço perguntou a um mestre:


- Como um ser humano pode saber que atingiu a suprema sabedoria?

- Quando ele cessa de se fazer esta pergunta.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

OUTRA PORTA


Chegou ante a porta sagrada. A chave que havia encontrado não encaixou na fechadura. Ao invés de buscar outra chave, se pôs a buscar outra porta.

- Alejandro Jodorowsky

sábado, 6 de fevereiro de 2010

BUSCAMOS ALÍVIO OU CURA?

Uma pessoa muito aflita procurou um Mestre em busca de ajuda. Este lhe perguntou:

-Deseja realmente ser curado?
-Acha realmente que me daria ao trabalho de lhe procurar se não desejasse? Respondeu a pessoa.

-E por que não? Disse o Mestre -A maioria das pessoas faz isso.

-Então para que vêm? Retrucou a pessoa aflita.

O Mestre respondeu -Elas vêm não precisamente buscando a cura, que é dolorosa, mas buscando alívio. E a seus discípulos, disse o Mestre:

"As pessoas que desejam curar-se de forma que o possam fazê-lo sem dor, são como os que são a favor do progresso, desde que não signifique para eles mudança alguma."

. . .

Não queremos mudar. De forma alguma. O ego se aferra. O ego negativo sabe que deve romper-se para que nós mudemos, e não está disposto a fazê-lo. É como um ovo que começa a rachar e pensa: "Como gostaria que me colocassem em água fervente, para tornar-me mais duro, de forma a não precisar liberar uma nova vida que me rompa desde o interior!" (Alejandro Jodorowsky)


. . .


Diz Marianne Costa que queremos melhorar, mas não mudar, já que ao mudar, morremos para o que éramos. O ego resiste a tudo que lembre a morte. Quando dizemos "quero melhorar", estamos caindo numa armadilha, pois na realidade dizemos "me mantenho igual, com alguns remendos".


Fonte: Plano Creativo / Alejandro Jodorowsky / Marianne Costa


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

OBRIGANDO A RECEBER


Para ir de seu templo até o rio, um santo percorria, dia após dia, com os pés desnudos, um caminho árduo e tortuoso. Seu devoto rei, para proteger-lhe as plantas dos pés, ordenou que cobrissem todo o trajeto com um macio tapete. Ao perceber que o santo avançava flutuando a dez centímetros do solo, para fazer-lhe descer e sentir a maciez do tecido, lhe obrigou a usar pesadas botas de ferro.

-Alejandro Jodorowsky

Fonte: Plano Creativo