quarta-feira, 5 de agosto de 2009

MANDALAS IV

Apesar de tudo, as mandalas nunca morreram inteiramente. Sobreviveram nas sombras, nos destroços, nas fantasias, eclodindo na loucura, nas viagens de drogas, esgueirando-se em seu oposto, o mundo da técnica, cujo símbolo emblemático é justamente a roda - parte essencial de qualquer engrenagem. Não por acaso, em nossa cultura muitas pessoas sentem-se como uma minúscula roda, dentro de uma imensa engrenagem anônima.

Fonte: Mandalas / Rüdiger Dahlke (Pensamento)
Ilustração: Cosmic Tribe Tarot

MANDALAS III

Tudo que sobe tem que descer, e tudo que desce volta a subir. Trata-se de uma lei muito antiga, ou melhor, atemporal, válida tanto para culturas, épocas, estilos de arte, como para os povos e indivíduos. Válida até para a conjuntura econômica, gostos e modismos. A mandala exprime assim o curso geral da história como o próprio destino dela através do tempo.

Depois do apogeu das catedrais e suas rosáceas, teve início a destruição da mandala. Os espanhóis destroçaram as culturas da América Central ao saírem em busca do ouro dos Maias e Incas (note-se que o ouro, o mais nobre dos metais, é o símbolo do Sol, gigantesca mandala de fogo).

Outros povos europeus, também movidos pela idéia da conquista predatória, se encarregaram de destruir culturas inteiras que viviam sob a égide da mandala. Em outros termos, o hemisfério esquerdo do cérebro declarou guerra ao direito. Também as culturas indígenas da América do Norte, com suas mandalas de areia, foram vencidas pelos homens brancos.

Em outros continentes, outras culturas sagradas também não tiveram chance contra o novo modo de pensar e de agir. Dessa forma, a mandala sucumbiu também na Índia.

Fonte: Mandalas / Rüdiger Dahlke (Pensamento)
Ilustração: Buddha Tarot

terça-feira, 4 de agosto de 2009

SOBRE O SUFISMO II

Um antigo dicionário Persa traz no verbete "Sufi", dando a definição como numa rima: SUFI CHISTA - SUFI, SUFISTA. QUEM É UM SUFI? UM SUFI É UM SUFI.

É uma linda definição, para um fenômeno indefinível. "Um Sufi é um Sufi". Isso não diz nada, mas diz tão bem. Diz que o Sufi não pode ser definido; não há outra palavra para difiní-lo, nenhum sinônimo para este fenômeno, nenhuma possibilidade de definí-lo linguisticamente.

Você pode vivenciá-lo, e assim pode conhecê-lo. Mas com a mente, com o intelecto, é impossível. Você pode tornar-se um Sufi - é o único caminho para saber o que isso é. Ao invés de ir ao dicionário, você pode ir na existência.

Fonte: Sufis - the people of the path, vol.1 / Osho
Ilustração: The Sufi / autor desconhecido

SOBRE O SUFISMO I

Um Sufi não precisa estar ligado ao mundo islâmico. Ele pode existir em qualquer lugar, sob qualquer forma, pois o Sufismo está na essência de todas as religiões. Não tem nada a ver com o Islam em particular. Os Sufismo pode existir sem o Islam, embora o contrário não seja verdadeiro.

Quando uma religião está viva, é por causa do Sufismo. Sufismo significa simplesmente um caso de amor com Deus, com o Todo, com o Universo. Significa que o indivíduo está pronto para dissolver-se no Todo, que está pronto para convidar o Todo para dentro de seu coração.

O Sufismo não conhece formalidades, nem está confinado por dogmas, doutrinas ou credos. Cristo é um Sufi, assim como Maomé, Krishna e Buddha. Existem apenas nomes diferentes para a mesma relação íntima com Deus.

A relação é sempre perigosa. É perigosa porque quanto mais você se aproxima da Totalidade, mais você se dissolve nela. E quando você chegar mais perto ainda, você já não é mais. É perigosa porque é suicida... mas é um suicídio bonito. Até que você morra voluntariamente no amor, você vive uma existência medíocre: nenhuma poesia surge em seu coração, nenhuma dança, nenhuma celebração. Você vive no mínimo, não se deixa afogar no êxtase.

O êxtase acontece quando você não é mais. Você é a barreira. Sufismo é a arte de remover a barreira entre você e você mesmo, entre o si mesmo e o self, entre a parte e o todo.

Fonte: Sufis - the people of the path, vol.1 / Osho
Ilustração: Sufi Dancing / Peter Sickles

MANDALAS II

A cultura ocidental industrializada perdeu o acesso às suas raízes, e desse modo, às suas mandals. Até mesmo as catedrais góticas, que uniam luz, cor e forma numa unidade, com suas belas rosáceas, se degradaram, transformando-se em museus que não dialogam com a atualidade.

A mandala foi desaparecendo aos poucos neste lado do mundo, primeiro da arte, depois da consciência. O pensamento unitário e sagrado foi substituído pela compreensão racional e fragmentadora do mundo. Começa então, para o Ocidente, o declínio da mandala no mundo interior.

Mas o próprio curso da história contém em si algo de uma mandala, e o interesse pelas formas circulares e sua unidade está novamente em pauta. Não por acaso, falamos da "roda do tempo" para caracterizar o tempo cíclico histórico. Ciclos que não são ruins nem devem ser combatidos, mas simplesmente encarados como a expressão do giro da mandala.

fonte: Mandalas / Rüdiger Dahlke (Ed. Pensamento)
ilustração: carta do Saints Tarot

MANDALAS I

A palavra "mandala" vem do sânscrito, e signfica literalmente "círculo". Para a maioria das pessoas, a mandala tem algo do Oriente, mas as mandalas encontram-se igualmente na raiz de todas as culturas, estando presentes em todo ser humano.

C.G. Jung estudou as mandalas, descobrindo que elas surgem como imagens interiores espontâneas, especialmente em situações de profunda crise interior. O enorme interesse pelas mandalas observado recentemente em nossa cultura, e seu uso cada vez mais frequente nos domínios da arte e da meditação são particularmente significativos.

Estamos num ponto de transição, num ponto de redescoberta de nossas raízes, de nossa mandala interior.

fonte: Mandalas / Rüdiger Dahlke (Ed. Pensamento)
ilustração: carta do Vision Quest Tarot

EU TAROT: Arcano II, A Papisa

Neste livro que respira como um recém nascido, ventre sem fim onde surgem os abecedários, em negros enxames que o vento dispersa, sou a pura substância de tudo o que existe. Luminosa coroa da sombra, raíz que se nutre do vazio, conhecimento imóvel e final.

Cada centímetro de minha carne é este livro santo, que contém o segredo de minhas infinitas transformações. Óvulo onde murmura o eco do grito ancestral, vertente inesgotável das infinitas memórias. Não sei nada, não posso nada, não sou nada. Quem vive em mim se não sou eu?

Montanha solicitada por amanheceres e ocasos, brotando serena da névoa, o poder da fé me pertence. Ponto onde se acumulam as mil causas de cada ação imaginável, o poder da atenção me pertence. Olho nascente vendo os destinos que se cruzam na teia do acaso, o poder do assombro me pertence.

Também me pertence o poder de estabelecer uma ponte sobre o abismo que separa os opostos, aquilo que não é nem um pólo, nem outro, nem ambos. Sino surdo ao seu próprio vibrar, sombra que não conhece a luz da qual se origina, cruz onde se funde o invisível, presa reservada ao Supremo Caçador.

Em minha vulva imaculada a sombra de seu gélido membro me oferece o prazer sublime que a tudo aniquila. Carne morta na qual as palavras são como fogo, como martelo golpeando uma parede que é puro mel, como leito onde canta o fantasma de uma noiva, como olhos cegos nos quais o segredo se deixa ver.

Segredo aberto, luz para os cegos, memória que avança rumo ao esquecimento. Se sou nove portas, te abrirei aquela onde chame com a calma de um morto que entra em seu ataúde. Quem sou? Que é minha vida? Quais são minhas obras? Por que abaixo da sombra de meu manto de mármore os vícios prosperam? Por que minha carne pudorosa cai embriagada na dependência da ave que se exibe? Por que os potros invadem meu templo com seus encantos lascivos?

Não há um momento em que não seja tentada a depreciar os preceitos, arrancar de minha boca toda palavra sagrada, ultrajar o ingênuo que deseja uma face transparente, despistar a verdade para gozar do mel da mentira, abrigar o mal para vencer a retidão do caminho.

Não escolho: me escolhem. Não falo: através de mim algo fala. Não amo: por meu coração se derrama a carícia intangível. Não dito a lei: navego na luminosa loucura do presente. Para além do tempo e do espaço está minha consciência: o invisível da escritura contém o visível de minha carne. Há um corpo mais além do corpo onde mora o verdadeiro eu.

No santuário deserto, ascendo das entranhas da terra. Compreendendo a riqueza das ruínas, entre os escombros acaricio as pedras.

Fonte: Yo, el Tarot / Jodorowsky

PEDRAS DO CAMINHO: SODALITA

A sodalita recebeu este nome na Grécia Antiga, devido ao alto teor de sal em sua composição: soda (sal) + lítio (pedra), ou seja, uma pedra de sal. Os gregos atribuiram a esta pedra propriedades curativas e protetoras, e também acreditavam que portar a pedra estimulava dotes artísticos, daí a sodalita ser carregada, na época, por pintores e escultores.

Por conter entre seus elementos zinco, manganês e cálcio, no nível físico esta pedra tem um efeito altamente harmonizante sobre as glândulas, fortalecendo o corpo contra doenças infecciosas e inflamações. No nível psicológico traz mais equilíbrio emocional, auto confiança, além de ajudar a dissipar culpas e sentimentos depressivos, abrindo a mente para coisas relevantes à nossa vida.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

COMO PODE TER FIM ALGO QUE NÃO TEM COMEÇO?

Um belo diálogo sobre a morte e a vida, extraído do filme Bab´Aziz, O Sábio Sufi.