Enterrando a cabeça na matriz da terra, cada vez mais profundo, até perder as fronteiras, para que nada estranho se mescle ao que sou. Feto obscuro nas raízes do ar, unido ao esplendor do esquecimento perfeito, gerado pelo vento, pendendo numa árvore que é minha mãe.
Tempo vazio, lua minguante, chuva celeste. Ao contrário do fogo que calcina, arranco de minhas mãos toda escolha, entrego minha voz ao sussurro do abismo, elimino o lucro de meus bolsos, aliso a esmeralda do sonho, converto minhas vísceras em oferenda para o sodomita sagrado.
Como uma hóstia de pedra, como um crustáceo fóssil ou uma moeda em decomposição, abdicando de todo gesto me entrego a quem saiba receber meu dom.
silêncio! Que o tigre enlouquecido se detenha, que as máscaras se consumam e que o vento durma! Vou parir uma aura!
Fragmentos de Yo, el Tarot / Jodorowsky